Crónicas de África – Fenda da Tundavala

Autor

Nova Acrópole

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África tem destas coisas: partilha miséria com perspectivas de desenvolvimento de uma maneira estranhamente natural. E, ao mesmo tempo, possui riquezas inatas ímpares que só nos podem fazer sentir admirados pela grandiosidade e majestade com que a natureza, aparentemente caprichosa, dotou alguns lugares da capacidade de nos deslumbrar até ao ponto de nos fazer sentir pequenos, até diminutos, perante tais maravilhas.

“Tundavala, é uma metáfora transformada em pedra simbolizando um portal de acesso a outra dimensão que está disponível para os corajosos que se atrevem a abandonar lugares-comuns em prol de uma senda que verdadeiramente enriqueça a vida interior.”

Uma dessas maravilhas é um lugar chamado Tundavala, situado na província da Huíla, cidade do Lubango, Sul de Angola. Trata-se de uma enorme fenda no fim do chamado planalto central (elevação que atinge mais de 2000 m de altitude cobrindo uma extensa área da região centro-sul de Angola) e de uma beleza de cortar literalmente a respiração. Perante esta fenda, que rasga o planalto a uma altitude bastante considerável, a primeira sensação é de que as pernas nos falham e procuramos instintivamente sentir-nos seguros a partir do ponto onde estamos. Mas esta sensação vai sendo substituída aos poucos pela segurança do abraço da mãe natureza, que nos vai envolvendo, fazendo-nos sentir pertença daquele lugar e talvez recordando-nos outros tempos em que fizemos parte integrante dessa natureza (ainda fazemos, só não temos consciência disso).

É um lugar tão magnificente no seu todo que é difícil abandoná-lo, querendo assim guardar o último adeus antes de partir; tendo a clara impressão de estar a sair de um lugar sagrado em direcção ao profano da vida mundana. E custa… mesmo tendo sido alvo de arranjos para tornar o lugar visitável e um dos destinos turísticos da zona, nota-se que houve uma preocupação para manter a área envolvente o mais virgem possível, fazendo uso de materiais extraídos do próprio lugar, o que demonstra exemplo de sustentabilidade e, ao mesmo tempo, a presença de uma força que envolve o local e as pessoas levando a um trabalho em uníssono movido por uma vontade, que não é unicamente a nossa.

Não se resiste, como já vem sendo hábito de quem visita o lugar, a atirar uma pedra para o vazio e esperar que se ouça o som da sua chegada ao solo, tempo de demora bastante considerável! Talvez este gesto represente a vontade incontida de também nós nos atirarmos ao vazio, ao desconhecido da aventura, para finalmente reencontrarmos o espírito real das coisas e da vida, sempre escondido por trás de um véu de mistério que nos incita, ainda que respeitosamente, a atravessar a fronteira do banal em direcção a uma verdadeira aventura da alma. A própria paisagem, que se perde de vista, entrecortada por inúmeras colinas, parece obra de uma consciência que modelou propositadamente a matéria para torná-la testemunho de uma obra que não é casual e, a própria fenda da Tundavala, é uma metáfora transformada em pedra simbolizando um portal de acesso a outra dimensão que está disponível para os corajosos que se atrevem a abandonar lugares-comuns em prol de uma senda que verdadeiramente enriqueça a vida interior.

Quantos não terão já feito esta viagem? É uma pergunta que fica ecoando, não à procura de resposta, mas incitando e inspirando a iniciar esse trilho sedutor que leva de forma intuitiva à meta/origem das nossas vidas.

Daniel Oliveira

15 de Setembro de 2012

Este artigo não foi escrito segundo as normas do novo acordo ortográfico

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