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Assim como popularmente se diz que os olhos são o espelho da alma, queremos que este sítio na Internet seja como uma janela aberta para a alma daquilo que fazemos. Queremos oferecer, através dela e falando em termos poéticos, os mil e um frutos do “Jardim Encantado da Sabedoria Antiga”. Vida! Saúde! Força Interior! Esta é uma das formas de saudação que encontramos no Antigo Egipto, na sua língua hieroglífica, tão fértil em evocações filosóficas. E isto é o que desejamos do fundo do coração a todos os que visitem este sítio.

Durante quase 40 anos, a Associação Cultural Nova Acrópole em Portugal superou largamente o milhar de actividades públicas nas suas diversas sedes; e dezenas de milhar de pessoas interessadas assistiram a elas e aos nossos cursos e seminários. No amplo leque de todo este trabalho, tão diverso como esforçado, late uma só preocupação, um só afã: ajudar a que a alma humana, a consciência ou vontade interior —como queiramos chamá-la— possa afirmar-se, expressar-se e crescer através do conhecimento e da acção altruístas. Que aqueles que ainda sentem a alma jovem possam fazer um caminho de acção exterior e interior, iluminado por um Ideal de fraternidade e concórdia. Derrubar com força as muralhas que a ignorância, o fanatismo e o medo estabeleceram entre uns e outros seres humanos. Alertar para o perigo da desumanização por perda dos valores morais, a pior pandemia que, possivelmente, tenhamos enfrentado nos últimos milénios de história. Hoje é este o afã que se expressa no nosso programa de voluntariado cultural; e em breve na acção ecológica e social.

Estudando a Filosofia de Platão, de Confúcio, o exemplo moral de Séneca e Marco Aurélio; o simbolismo da Arte Egípcia, Tibetana, Maya ou Azteca; a psicologia budista e tantos e tantos outros conhecimentos, estamos a aprofundar a alma humana e as verdades tão luminosas há mil anos como agora. As verdades que se por um lado a história as guardou zelosamente no seu seio, por outro são as chaves que podem ainda abrir, se bem aplicadas, mil e uma portas no labirinto do devir humano. Não estudamos a história e a cultura para dissecá-las como um cadáver; nem tão pouco para usar, com snobismo e contra natura, as suas gastas e velhas vestes; nem para vangloriar-se de um conhecimento que nada valerá se não for aplicado, mas sim para encontrar soluções para os problemas que vivemos e para educar a alma humana na sua multidimensionalidade , saindo desta prisão do pensamento e vida que Marcuse chamou “o homem unidimensional” e que consiste numa vida sem ideais, como robots no psicológico e mental. Uma vida que desde o berço ao túmulo não outorga vivências à alma, nem dignidade nem dons. Uma vida que, por irreal, é gérmen de angústias e medos.

Platão, no seu livro “Fedro”, expôs magistralmente a sua teoria da Alma Prisioneira. Diz como a alma imortal e celeste, quando encarna na vida humana física, se torna escrava dos sentidos materiais e submerge numa espécie de sonho e olvido. Esquece a sua natureza, a sua capacidade de voar e de elevar-se por cima das necessidades da sua jaula —a personalidade— que não são suas necessidades. A Alma, dizia Platão, não é desta terra e carece das necessidades físicas, psicológicas e mentais que esta terra gera. A alma não se alimenta dos frutos desta terra mas sim de outros, celestes; não necessita da aprovação alheia para fazer ou não fazer; não necessita de auto-estima porque naturalmente a tem; antes melhor estima aquilo que ama. Não se sente limitada pelo aqui e agora; nem pelo cárcere do tempo que separa, de acordo com a lei de causa e efeito mundana, o ontem, do hoje e do amanhã. Ama uma beleza que não é condicionada pela idade nem pelas circunstâncias, exibe uma bondade que é ela mesma, a sua própria essência e natureza; é, enfim, a verdadeira medida das verdadeiras acções; o selo de autenticidade no devir de valores relativos do mundo.

E ensinava Platão que a Alma, como uma ave celeste numa jaula formada por ideias, crenças e necessidades deste mundo, pode despertar do sonho e olvido quando percebe na natureza e no comportamento dos outros fulgores que não são deste mundo mas sim de outro mais elevado e puro. Por exemplo, todo o acto de generosidade na selva dos interesses criados brilha como uma estrela na noite. É necessário ensinar à alma a sua verdadeira natureza para que, recordando e exercitando-se, possa recuperar a sua capacidade de voo; pois é esta, só e não outra, a essência da verdadeira liberdade. Pode existir tarefa mais nobre que libertar a alma das suas ataduras? E que reconheça assim o seu divino parentesco com todas as outras almas, não só humanas mas de tudo o que alenta na natureza ou na própria imensidade do espaço? Quando S. Francisco de Assis dizia “Irmão Sol, Irmã Lua, Irmãs Estrelas…” não o fazia de modo figurado, literário, mas sim que percebia uma verdade que todas as almas despertas podem perceber e que é nosso dever e saúde não esquecer. Para Platão o amor à Sabedoria —pois isto é Filosofia e não sisudo estudo— é o espelho mágico que permite à alma recordar a sua verdadeira natureza; para fazer, como fruto deste reconhecimento, aquilo que deve fazer aqui e agora. Pois como ensinam os velhos textos da Índia: apenas no dever, interior e definitivo, se encontra a verdadeira acção. É fora deste, quer dizer, fora dos fins e confins da alma que se projectam as ilusões da acção, triste resposta às ilusões da vida.

José Carlos Fernández